Capelobo: Diabo original base de muitos sincretismos

Definitivamente esse é mais um daqueles textos que elucidará alguns e causará indignação em outros. Não é essa é ideia, mas infelizmente o mundo está sensível demais para certas colocações e temos que ter extremo cuidado com aquilo que falamos ou escrevemos para não sermos alvo de haters que pregam coisas completamente opostas ao que você acredita ser o caminho correto das letras.
Vamos entrar num campo de discussão bastante controverso, mas que de certa forma modela o ideal da Quimbanda cruzada com o diabolismo. Para isso vamos nos valer da própria hierarquia original do nosso país, ou seja, não vamos falar de deuses de culturas estrangeiras, mas de criaturas que ainda existem e são praticamente esquecidas no nosso país. Hoje falaremos sobre Capelobo, um diabo brasileiro perverso e que certamente serve como base para estudos comparativos com Exus e Pombagiras que possuem a mesmas qualidades.

O texto não será extenso, mas basicamente, esse diabo tem uma semelhança com lobo-guará, com uma língua grande e um focinho avantajado similar a um tamanduá. Isso se reflete no corpo, afinal, as unhas de tamanduá são fortíssimas. Capelobo tem pés arredondados e com unhas afiadíssimas que ajudam-no quebrar crânios e sugar toda massa cerebral. Segundo o escritor Rafael Noleto (referencia na literatura piaga) o nome tem origem indígena porque a palavra “Capê” significa em tupi (osso quebrado), assim entendemos que a ação desse diabo como aquele que quebra a vítima toda antes de devorá-la, pois assim como os tamanduás, possuem um sistema digestivo provida de fibras rígidas, cuja função é a trituração do alimento. Capelobo é uma espécie comparável ao lobisomem, mas sem a ação lunar, permanecem assim até ser combatido e exterminado (o que é extremamente difícil). No alto Xingu, os originais acreditam que nativos velhos e amaldiçoados (sim existem maldições nativas) se encantavam nessa forma. Assim como alguns Exus, possui apenas um olho central. Assim como Exus e Pombagiras, suas aparições são noturnas, principalmente na Lua Cheia e nas sextas-feiras 13 (isso já é uma influencia ibérica). São irados, inconformados, causam desequilíbrios mentais, tem o mesmo poder de Exu de transitarem pelo plano astral, e lá também castigam as almas. Até esse ponto encontramos características do Exu Quebra-Ossos, do Exu Sete Capas, do Exu Lobo, do Sete Garras e se estudarmos um pouquinho mais conseguimos enxergar o Exu Mal Olhado, pois Capelobo persegue até o fim quem seus olhos miram. Sabe o que é mais engraçado?

Que ele é abrandado com folhas de guiné, cachaça e limão cortado em cruz. Similaridades? Seus ataques envolvem ovos de galinha preta (muito populares em feitiços com Pombagira), com objetos colocados dentro e enterrados no cemitério (não podemos esquecer o fumo de corda – abranda a ira contra quem está fazendo o feitiço). Mais uma vez vemos que Capelobo tem trânsito livre entre os Poderosos Mortos e não necessita de autorização para receber seus feitiços.
Detalhe: A urina (que é usada como uma ferramenta de defesa contra feitiços) para ele é o chamado perfeito, por ser um Lobo de faro aguçadíssimo, vai sentir o cheiro e vir rapidamente receber a oferenda. Funciona como um perfume.
Falta muito para os Quimbandeiros entenderem que a Quimbanda Real tem sua origem aqui, nos mitos e lendas dessa poderosa Terra, escolhida por Maioral para ser o foco da resistência. Porém, há quem diga que esses seres são apenas mitos, assim como alguns alegam que Lúcifer é Jesus. Quimbanda é estudo, busca e amor. Salve Capelobo! Salve Exu e Pombagira.
Detalhe 2: Imaginem os Portugueses encontrando esses seres na madrugada. Eu gostaria de ver isso.

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